segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Ora Bom dia, Lua que já não te pertenço há quase meio ano atrás. Levantei-me agora mesmo e fui à varanda da cozinha tentar ver como estavas vestida hoje, se de quarto crescente ou de quarto minguante, embora para mim não exista qualquer diferença entre esses teus dois estados, visto que sempre tive o dom de os confundir. Lembro-me de um dia alguém sábio me ter dito que "quarto crescente" era quando a Lua descrevia um C invertido, isto no hemisfério norte. Na altura, até posso ter compreendido extremamente bem tal explicação, mas hoje não sei o que significa. Apagou-se misteriosamente da minha cabeça como tantas outras explicações e memórias. Por isso, peço desculpa ao "alguém sábio", mas nunca consegui fixar o que não quero aprender. Talvez este seja um problema de todos nós.



Bem, este é sempre um dilema com o qual me deparo vezes sem conta: por onde começar. Já passaram seis meses, de certeza que tenho muito que contar, demasiado para desabafar e pouco para conter. Mas se formos bem a analisar, é regra geral a caneta, de início, custar a escrever. Na maioria das vezes é necessário fazer alguns rabiscos até a tinta correr fluentemente e, tal como a caneta, o meu cérebro age da mesma forma.



Ao longo destes meses todos, julgo que não completei a minha escrita uma única vez. Comecei vezes sem conta, textos carregados de sentimento e de resposta a dúvidas que tanto me atormentavam o juízo, só que, de facto, nunca os acabei. A meio dos textos, deixava de conseguir pensar e as ideias perdiam-se num nevoeiro escuro e denso, longe do meu alcance. Batalhei nestes pensamentos imensas vezes, julguei mesmo que estava a começar a enlouquecer, até que consegui encontrar o porquê de todo este processo e, rapidamente, descobri uma maneira de o comprovar. É que, por vezes, precisamos de nos afastar daquilo que é eternamente nosso, para que não nos pareça um bem adquirido. Fui clara? Hm... Talvez esta explicação seja mais fácil de compreender: quis comprovar se a célebre frase que as mulheres gostam de aplicar aos homens "Só quando ele me perder é que me vai dar o devido valor", também se aplicava a este amor entre mim e a escrita. E, para ser sincera, comprova-se. Não sei se tal acontece entre homens e mulheres, mas entre mim e a escrita, deu, bastante bem, para perceber que o amor que nos une é verdadeiro e perpétuo. Assim, eu admito que as saudades que tinha de escrever já tinham força suficiente para me arrancar o fôlego. E não estou a exagerar.



Contudo, lá por ter deixado de me dedicar ao diálogo no papel, como gosto de designar, não significa que tenha deixado de exprimir o que sinto. Muito pelo contrário, penso que tive mais oportunidade de sentir cada pedaço dos meus sentidos, embora os tenha guardado sempre para mim própria. No fundo, continuava de olhos abertos, com ouvidos ávidos e, mesmo quando estava distraída, conseguia captar tudo aquilo que queria. Continuei a escrever, portanto, só que comigo mesma. Continuei a descobrir os outros, à medida que me fui conhecendo, mas sem a ajuda do papel.



O que isto me proporcionou... Julgo que tudo isto foi digno de uma mistura de sentimentos num grande caldeirão para formar poções mágicas. E, tal como as poções mágicas, nunca sabemos o que de lá pode surgir. Juntamos alguns ingredientes - eu juntei raiva, indignação, saudade, receio, desconfiança, indiferença, sabedoria, impaciência, arrependimento, alegria, liberdade, entre outros - e no fim esperamos pelo resultado. E, para mim, o mais interessante disto tudo é nunca saber se dessa mistura resultará uma bomba atómica, impetuosa e de eficaz destruição, ou um simples rebuçado de caramelo, daqueles que são capazes de aguentar horas a adocicar-me a boca e o coração. É esperar para ver.



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